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Sou água profunda 

habitando esse corpo água que muitas vezes me transbordou, chego em passos firmes como a terra dando molde feito barro para essa alquimia acontecer.

Em trinta voltas ao sol e milhares em torno de mim mesma, bailarina desde pequena, uma sede insaciável pelos mistérios pela vida, curiosa e pesquisadora das danças dos povos, me encontrei em dança selvagem dentro da vastidão que me habita, mas as experiências que mais nutriram meu ser foram as tardes em que minha avó tocava teclado e pintava panos de prato,  os cantos de minhas tias quando lavavam a louça, o olhar penetrante de minha mãe quando me ensinava algo novo sobre a misteriosa vida, as danças ensaiadas de videoclipes gravados na fita cassete, as brincadeiras de rua e subidas nas árvores pra apanhar fruta.

O que habita em meu trabalho é essa alma pura e brincante que manifesta espontaneidade, é a menina moça que se deparou com os desafios entre sombras e cores, é a Mulher que saiu viajar para conhecer e degustar o mundo de sua ótica, em seu paladar e em cada célula de seu corpo que se moldou em ousadia, feito ginga de capoeira, pra saber entrar e sair, saber observar e ir de mansinho e com sagacidade dançar no escuro.

Oceano
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Em uma tarde de sol que acolhe, ao lado da horta que crescia úmida e minuciosa, observei a vida acontecendo em toda sua magnitude, vida, morte, tudo coexistia.

 

Reconheci a profundeza de habitar um corpo que sente muito, que se recolhe em águas onde o chão já não se faz, e dentro dessa imensidão o selvagem dava as caras com dentes afiados e olhar de felino, soprando no peito a força da mata e logo num canto doce a força das águas.

 

 Despertei como filha, intencionei a minha voz, é dali do profundo que o meu servir virou mel de colher, onde adoça a boca e abre passagem pro prazer chegar, a mais cheirosa flor que amolece os brutos e tira sangue dos distraídos.

 Gritou minha alma, que dancemos em círculos como sempre fizemos, que cantemos as vozes da terra utilizando nossos corpos em seu instrumento e que possamos plantar as sementes dos frutos em vitalidade e potencia.

 

 Ali vi em um lugar que acolhe a todos sem distinção, onde ninguém fica para trás. Em uma roda que girava, feita de sombra de um lado e luz de outro, e nós dançaremos tecendo os fio por um caminho do meio

habitando por fim a essência de um corpo vivo e presente,

um corpo selvagem.

QUE ACORDEM OS CORPOS SELVAGENS

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